Libertação segundo a Teologia Feminista

terça-feira, 11 de maio de 2010 00:41 Postado por Marcos Nunes
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Segundo a maioria dos teólogos o pecado está intimamente ligado a questão do orgulho. Em Lutero é emancipação, egocentrismo, descrença e negação da fé em Deus. Para Paul Tillich o pecado é uma alienação em relação a Deus[1].
A teóloga feminista Elisabeth Moltmann-Wendel[2] nos trás uma importantíssima contribuição, pois nos ensina a olhar e a analisar as origens do pecado no universo feminino. Sei que muitos são generalistas, talvez fundamentalistas, e não aceitam estes tipos de análises teológicas que usam cortes sociológicos por gênero, classe, cor, naturalidade, grau de instrução e etc.


Mas a teóloga citada observa que no universo feminino, em muitas ocasiões, o pecado não se origina no orgulho e, sim, na autonegação. Este seria um dos fatores mais freqüentes nos pecados do universo feminino. Na ótica de Lutero e Tillich o pecado significa “pretender ser igual a Deus”, a afirmação do seu “EU” (ego), no caso do universo feminino o pecado tem uma forte tendência de se originar na negação do seu “Eu”, o medo de ser ela mesma, com a submissão radical, a negação da sua identidade, a baixa auto-estima, falta de coragem e etc.
Segundo Elisabeth Moltmann-Wendel a “libertação do pecado precessar-se-ia como aprendizagem do amor próprio e com o êxodo do mundo patriarcal a uma vida orientada pelo amor e pela alegria[3].
A teologia feminista nos trás um olhar muito peculiar e ao mesmo tempo libertador sobre a realidade do universo feminino. Muitas vezes as mulheres são criadas e chegam à fase adulta oprimidas pelas forças que seus pais exercem na infância e adolescência e que o marido e os filhos exercem na fazer adulta. Muitas vezes a experiência de autonegação tem sido transformada em falta de amor próprio, e por tanto, vai de encontro à vontade de Deus para sua criação.
Mesmo a teologia feminista insiste que esta situação de escravidão e pecado não é exclusiva das mulheres, existem casos de homens que sofrem do mesmo tipo de dependência familiar, por tanto, não conseguem se sentir livres para constituir uma nova família com novos padrões.
É necessário ressaltar que a autonegação também pode ser uma qualidade se for exercida com equilíbrio. Jesus disse: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me.” Lc 9.23. O problema não é o indivíduo “negar-se a si mesmo”, o problema é o indivíduo se deixar ser subjugado e oprimido por sistemas, estruturas, doutrinas, culturas ou pessoas enquanto agentes de dominação.
“O amor próprio, protegido contra a moléstia do egoísmo e da perversão do narcisismo, é pressuposto de saúde humana e condição indispensável do amor ao próximo”[4].
Uma experiência de vida e de família que sinaliza o Reino de Deus é uma experiência que mostra em nossa casa hoje, aquele tipo de relacionamento livre e amoroso que vamos viver plenamente no céu.
Abaixo a dependência emocional!
Abaixo a baixa autoestima!
Viva a experiência de autonegação por amor!
Viva as nossas famílias!
Marcos Nunes

Bibliografia:
BRAKEMEIER, Golttfried. O ser humano em busca de identidade: Contribuições para uma antropologia teológica. São Leopoldo: Sinodal: São Paulo: Paulus, 2002.
Notas:

[2] Elisabeth Moltmann-Wendel é esposa de Juger Moltmann, um dos maiores teólogos do Séc. XX e principal fundados da Teologia da Esperança, para saber um pouco mais Clique Aqui.
[3] Ibid, p. 67.
[4] Ibid, p. 67.

Prenúncios

sábado, 8 de maio de 2010 17:33 Postado por Marcos Nunes
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A chaleira no fogão é prenúncio da caldeira na fábrica,
O lençol que balança no varal é prenúncio da vela que empurra o navio,
A teia de aranha suspensa entre duas paredes é prenúncio da ponte que ligará dois continentes,
O pensamento acalentado na alma é prenúncio da ação generosa,
A mágoa escondida no coração é prenúncio da vingança fatal,
A insatisfação regurgitada como ingratidão é prenúncio da ganância invejosa.
A fome de justiça é prenúncio do alvorecer do Reino de Deus.

Fonte: Ricardo Gondim via PavaBlog

Sinalizando o Reino na Política

sexta-feira, 7 de maio de 2010 23:46 Postado por Marcos Nunes
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Geralmente eu estou no trânsito às 19hs quando saio do trabalho, acabei tomando gostou por fazer uma coisa que 95% dos brasileiros devem detestar: ouvir “A Voz do Brasil”. Aliás, faz algum tempo que eu tomei gostou por política e empreendedorismo. Mas eu gostaria de falar apenas sobre política hoje. Lembro quanto eu era criança, em 1989, ouvia alguns Jingles das campanhas presidenciais daquele ano:

Passa o tempo e tanta gente a trabalhar
De repente essa clareza pra votar
Sempre foi sincero de se confiar
Sem medo de ser feliz
Quero ver você chegar
Lula lá, brilha uma estrela
Lula lá, cresce a esperança
Lula lá, o Brasil criança 

Na alegria de se abraçar
Lula lá, com sinceridade
Lula lá, com toda a certeza pra você
Um primeiro voto
Pra fazer brilhar nossa estrela
Lula lá, muita gente junta
Valeu a espera…”

Naquele tempo eu não entendia nada sobre política, mas um partido e um candidato em especial me chamavam atenção: O Partido dos Trabalhadores e Luiz Inácio “Lula” da Silva. Isso não ocorria por qualquer motivo filosófico ou partidário, mas por conta da minha realidade familiar.

Naquela tempo eu passava muitas noites com o meu travesseiro em cima da cabeça para abafar o som das máquinas de costuras industriais que varavam várias madrugadas sob a condução da minha mãe mais algumas “vizinhas-amigas-sócias”. O desafio freqüente era entregar 2500 carteiras em uma semana, ou 1000 mochilas em outra....não era nada fácil, o café e o cigarro sempre estavam presentes. 


Quando eu acordava para ir ao banheiro precisava transpor aqueles enormes montes de carteiras e\ou mochilas, muitas vezes eu ficava no alto de um daqueles montes aparando as linhas que estavam sobrando nas carteiras ou desvirando as mochilas que eram costuradas do lado avesso. Até hoje eu durmo com o travesseiro em cima da cabeça, se tornou um hábito, mas sem dúvidas os tempos são outros. O “Lula lá” não aconteceu naquela eleição, aconteceu um “Collor lá”...e não lembro disso com felicidade. 


Mas na época das eleições de 1989 lembro que perguntei a minha mãe:

-Mãe, em quem a senhora vai votar para presidente?
-Não sei, acho que vou votar no Collor, mas por que está perguntando?, perguntou ela, com um tom de riso e surpresa de uma mãe que está vendo uma criança de 7 anos perguntando sobre política.
-Porque a senhora deveria votar no Partido dos Trabalhadores, a senhora não é trabalhadora... ?!?!?!?, eu respondi.

Aí..aí...é muito engraçado lembrar disso...da minha cabeça de criança....rsrsrs

Depois disso o Collor e a Zélia deram um show na Casa da Dinda ("Mãe Joana") e na poupança, o Itamar deu\viu um show da Lilian Ramos no sambódromo, o FHC deu um Show no Real e aconteceu o “FHC lá“, o “FHC lá“ teve Bis...então  o “Lula lá” virou verdade e o Jingle do "Lula lá" também teve Bis. Agora estamos novamente no momento de decidir se vai dar “Serra lá” ou “Dilma lá”, com todo respeito a nossa irmã Marina, acho que ainda não chegou a hora “Dela lá”.

Mas eu quero mesmo é falar sobre o “Magno Malta lá”...não “lá” na presidência, mas "lá" no senado fazendo de tudo para lutar de todas as maneiras contra a pedofilia. Hoje eu ouvi ele falando na “Voz do Brasil” sobre uma proposta da CPI da Pedofilia sobre a quebra do sigilo de 30.000 contas de usuários no Orkut para prender aqueles que usam esta rede social para praticar a pornografia infantil e para aliciar menores de idade.

Este senador tem sido um exemplo de alguém que abraçou uma causa e está se dedicando incansavelmente a fazer valer o voto do eleitor do Espírito Santo. Ele está fazendo de tudo para que seu mandato entre na história com projetos que pretendem até mesmo mudar a constituição para permitir a pena perpétua para quem for condenado por pedofilia.

Parece-me que ele está mesmo disposto a trabalhar para reduzir a níveis mínimos, próximos de zero, a pedofilia no nosso país. Parece-me que existem ações coordenadas por ele em vários estados da nação. Parece-me que no céu, ou seja, na plenitude do Reino de Deus não haverá pedofilia alguma. Parece-me que este nosso amado irmão em Cristo está se mostrando muito interessado em fazer com que o Brasil de hoje seja o mais parecido possível com o céu em que vamos viver amanhã. Ele, sem dúvidas, está usando o seu mandato de maneira proveitosa e está “Sinalizando o Reino na Política”.
Para saber mais sobre o Sen. Magno Malta e seus projetos Clique Aqui.

Imagem: J. Bosco, Via site do Sen. Magno Malta


Globo entrevista Ana Paula Valadão do Diante do Trono em evento organizado pelo AfroReggae

sábado, 1 de maio de 2010 17:46 Postado por Marcos Nunes
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Ministério de Louvor Diante do Trono faz show pela paz em evento realizado pelo Grupo Cultural AfroReggae.
Está é uma excelente iniciativa de aproximação entre a igreja e a cultura em prol da sociedade. Apesar de esta banda gospel provocar reações muito distintas no meio cristão, mesmo que muitos cheguem perto da idolatria, enquanto outros chegam perto da aversão total, não há como negar a popularidade em vários tipos de igrejas e até mesmo em ambientes não cristãos.


A participação de um grupo cristão de tanta popularidade em um evento pela paz e em parceria com tantos órgãos públicos, iniciativa privada e entidades do terceiro setor podem ser sujeitas a muitas críticas em várias áreas: teológica, musical, doutrinária e etc. Mas não há como negar que eles estão nos dando uma aula de diplomacia.

Sei que muitos podem adotar a ideia de que é tudo pode dinheiro...mas será que esta diplomacia não está fazendo falta no meio evangélico a muito tempo?

Forte Abraço!

Marcos Nunes







Conexões Urbanas Gospel: Música pela paz em São Gonçalo



Apresenta
O não à violência é o tom do primeiro Conexões Urbanas Gospel, que o Grupo Cultural AfroReggae e a Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos (SEASDH) realizam neste sábado, dia 1º de maio, a partir das 17h, no Centro de São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro. O evento é parte das atividades do Rio Cultura de Paz, projeto integrante do Programa Nacional de Segurança com Cidadania (Pronasci), e gerenciado pela SEASDH, que atua em 21 comunidades da capital e do estado fluminense levando qualificação profissional, geração de emprego e renda, inclusão social e afirmação da cidadania.
Seguindo a idéia de unir raças, crenças e classes sociais para quebrar os muros invisíveis do apartheid social, o evento terá show da banda gospel Ministério de Louvor Diante do Trono e convidados.
Sobre o Rio Cultura da Paz: Parte do Programa Nacional de Segurança com Cidadania (Pronasci) e realizado pela Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos (SEASDH) em 21 territórios da cidade do Rio de Janeiro, além da região metropolitana e litorânea, o Rio Cultura de Paz é formado pelos projetos Mulheres da Paz, Protejo e Espaços Urbanos. Tem por objetivo fortalecer os valores e a prática da paz em regiões com potencial de conflito social por meio da qualificação profissional de jovens, com as conseqüentes possibilidades de geração de emprego e renda; pela melhoria da qualidade dos serviços públicos nas áreas da educação, saúde e segurança pública; e pela formação de uma rede de iniciativas sociais de promoção e desenvolvimento local. 
Mulheres da Paz: 2.550 mulheres que exercem o papel de liderança e atuam na formação de redes sociais de prevenção e enfrentamento à violência doméstica e urbana. São promotoras da paz, mediadoras de conflito e orientadoras dos jovens do Protejo.
Protejo: tem como objetivo capacitar a implantar programas de formação e inclusão social para adolescentes e jovens, com idade de 15 a 24 anos, expostos à violência, por meio da oferta de oficinas educacionais, culturais e esportivas. Atualmente, são 2.710 atendidos.
Espaços Urbanos Seguros: visa promover uma experiência de gestão comunitária na prevenção da criminalidade, estimulando e valorizando o convívio social, reabilitando espaços públicos, escolhidos pela própria comunidade, para ocupação e uso em atividades de lazer e de convivência comunitária.
Sobre o Conexões Urbanas: Esta será a 59ª edição do projeto que leva shows com grande infraestrutura de palco e figurino para as favelas do Rio de Janeiro e o primeiro com a chancela Gospel. Ao longo de seus nove anos já participaram nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Marisa Monte, Xuxa, O Rappa, Charlie Brown Junior, entre outros. Hoje, Conexões Urbanas virou uma grande plataforma para o AfroReggae que inclui também uma revista, um programa de TV (exibido no Multishow) e cinco programas de rádio. 
Patrocínio:



Realização:




Apoio:
                                     




Fonte: AfroReggae

Sinalizando o Reino na Cultura

13:38 Postado por Marcos Nunes
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Eu tive a honra de estar presente na cerimônia de formatura do meu amigo André Thiago. Eu já havia postado um artigo que era uma adaptação de um email em que eu relatava como havia sido a banca de exame do Trabalho de Conclusão de Curso de Design Digialna INFNET.

Agora eu estive presente na cerimônia de formatura. As formaturas são naturalmente longas, densas, burocráticas e forçadas. Resumindo: chatas, mas eu gosto! Eu adoro ter a oportunidade de compartilhar as alegrias e vitórias das pessoas que eu amo. É gostoso sentir-se parte de um momento tão importante, o ápice de uma história de 4 anos, de muito dinheiro, tempo, estudos, sacrifícios e etc.

De maneira particular a estrela principal da festa foi meu amigo André Thiago, mas uma outra estrela mais popular entre o grande público estava presente, o ator Milton Gonçalves é o pai de uma das alunas desta turma e se dispôs e ser o mestre de cerimônias da mesma.

Antes de suas palavras formais pediu licença para compartilhar uma história pessoal. Ele contou que quando sua esposa estava grávida do primeiro filho do casal tiveram uma conversa em que a questão era "Qual seria o maior legado eles poderia deixar para os seus filhos neste mundo tão hostil?". Segundo ele, sua esposa muito sabiamente disse: "Cultura".

Creio que a igreja de Jesus Cristo precisa aprender a dar mais valor para a cultura dos seus partícipes. Creio que a igreja deve ter um papel fundamental no processo de interferência e produção de cultura. A igreja não pode se posicionar como uma agência reguladora da cultura humana ou nacional, mas deve ser uma agência de influência nos valores humanos para que estes seres humanos sejam produtores de culturais que de alguma forma sinalizem o Reino de Deus.

Precisamos investir mais na formação artistas cristãos autênticos. Precisamos de gente com talento artístico e valores cristãos influenciando nossa sociedade. Isso é sinalizar o Reino de Deus através da cultura.

Deus seja louvado pela arte!

Forte abraço!

Marcos Nunes

CENPS 2010 - Congresso Evangélico Nacional de Profissionais de Saúde

11:54 Postado por Marcos Nunes
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Acontece no Rio de Janeiro em Setembro de 2010 o Congresso Evangélico Nacional de Profissionais de Saúde. Uma iniciativa muito interessante que une a vocação profissional com a consciência de necessidade de Sinalizar o Reino de Deus numa sociedade carente de integridade.

Você que é um cristão e um profissional de saúde apaixonado não pode perder essa grande oportunidade de refletir sobres dois temas com pessoas que são autoridades no assunto.
Informações em: www.cenps2010.com.br


Eu, você e a miséria

00:46 Postado por Marcos Nunes
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Artigo publicado em Dezembro de 2009 no Portal Interdenominacional.

Outro dias desses eu estava indo para o meu "sagrado jogo de volei de toda sexta-feira", mas o trânsito estava muito ruim no Rio de Janeiro por conta da chuva e dos acidentes na principal via expressa da cidade. Percebi que estava muito tarde e que o jogo não iria acontecer. Resolvi descer do ônibus no meio do caminho, em um centro comercial e pegar outro ônibus em direção a minha casa.

Quando estava numa rua com muitas lojas, às 20:30hs, percebi que ainda haviam muitas lojas abertas por conta do natal, mas já não tinha tanta gente perambulando na loucura das compras de fim de ano. Não perdi tempo, aproveitei a rara e preciosa oportunidade de entrar numa loja vazia nesta época do ano e comprei algumas roupas necessárias.

Segui meu caminho até a rodoviária urbana do bairro e fiquei na fila. O cenário era clássico para uma sexta-feira: Uma fila cheia, o ônibus não chegava, a fila era ao lado de um bar, a calçada cheia de "mesinhas", as "mesinhas" cheia de gente, pessoas cheias de cerveja e as mentes buscando alguma maneira de esquecer as crises do lar, do trabalho e das dívidas. 

Quando eu menos esperava percebi um vulto passando ao meu lado, o som altíssimo do DVD do grupo de pagode no bar me impedia de ouvir, mas meus olhos estavam diante de uma mulher maltrapilha, com uma criança no colo e a boca se mexendo em minha direção. De certo que estava pedindo alguma ajuda, a poluição sonora não me deixou ouvir e entender nada o que ela havia dito, mas o meu subconsciente foi ativado e o meu corpo respondeu com uma boca se mexendo sem emitir muito som e a cabeça meneando: Ela entendeu que minha resposta era negativa ao seu pedido e seguiu pela fila na sua "via crúcis".

Meus olhos foram acompanhando aquela figura quase mitológica. Os minotáuros eram criaturas formadas de duas partes: metade homem e metade touro. Aquela figura que caminhava naquela fila era metade "mulher-desesperada-pedindo socorro" e metade "criança-faminta-sem futuro".

Ela segui na fila do meu ônibus que tinha 6 ou 7 pessoas e cena se repetia de forma que minha retina ficava cada vez mais marcada e minha alma cada vez mais doida. A fila do meu ônibus acabou para ela, mas para mim continuava e ela passou para fila do ônibus ao lado e, qual não foi a minha triste constatação, senão que na outra fila só haviam cabeças meneantes e nenhuma mão a se estender. Uff.. é duro relembrar estas coisas! Mas nem imagino como seja vivê-las. E você?

É neste ponto que eu queria chegar. Como é que eu e você temos olhado para o cenário social da nossa cidade? Como é que eu e você nos sentimos quando vamos fazer compras de presentes no final do ano sabendo que há tanta gente sem dignidade andando pelas ruas? Como é que eu e você olhamos para o rosto de uma criança faminta e de uma mãe desesperada? (Eu confesso que tenho sérias dificuldades em olhar nos olhos e de encarar)
O que é que eu e você temos feito para mudar a situação dos que nos cercam?

No capitulo 25 de Mateus Jesus fala sobre um certo momento em que Ele fará distinção entre as ovelhas e os bodes: "Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo;
Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me;"(Mt 25.35 e 36)

"Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos;
Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber;" (Mt 25.41e 42).

Não que eu tenha medo deste dia por causa de mim e das minhas obras especificamente, mas o que me deixa preocupado a respeito deste dia é imaginar o coração do Senhor lamentando o fato de que a humanidade, que foi alvo de seu amor desde sempre, não entendeu que as obras não tem origem ou fim em si mesma e que o amor deve ser um grande e caudaloso rio que tem sua nascente no coração de Deus e vai ganhando novos afluentes, que são as pessoas lavadas e remidas pelo sangue do Cordeiro. E que este rio deve seguir crescendo até desaguar no oceano das obras que devem cobrir e abençoar o mundo até os confins da terra. 
Este foi o plano de Deus desde Abraão, em que quem todas as nações da terra seriam benditas.

Me imaginar estando do lado direito ouvindo o "Vinde, benditos de meu Pai" não me deixa nada tranquilo se eu pensar que talvez a maioria ouça o "Apartai-vos de mim, malditos".

Gostaria que eu e você fôssemos cheio do amor e da compaixão de Deus diante da miséria para ouvirmos juntos a mesma frase.

Forte Abraço!

Marcos Nunes

Chico Buarque de Samaria

00:25 Postado por Marcos Nunes
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Texto escrito para avaliação da matéria Teologia do Século XXI do Seminário Teológico Batista Carioca em 2008.


No mês dos 64 anos de um dos mais respeitados artistas da nossa cultura brasileira, Francisco Buarque de Holanda, resolvi aceitar o desafio de navegar numa aventura transcultural sobre a maneira como Jesus iria relacionar-se com a nossa cultura brasileira caso vivesse em nossos tempos. Alias, será que Ele sairia de Israel, da sua cultura, será que se daria ao trabalho sentar-se em nossas rodas de conversa, em nossas praças, na beira do mar ou dos rios? Será que Ele ouviria o que temos a dizer, escrever, cantar, tocar e encenar do nosso jeito Tupiniquim? Isso que tentarei responder no final!

Bem, sei que não estou sozinho no meio evangélico brasileiro quando me disponho a me abrir às manifestações culturais populares do nosso país, mas também sei que não estou com a maioria, nem com o mais populares no meio. Lembro-me agora que os princípios batistas que, quando falam do governo da igreja, dizem que "nem a maioria, nem a minoria, nem tão pouco a unanimidade, refletem necessariamente a vontade divina"[1]. 

Sei que
Ed René Kivitz me defenderia, caso fosse acusado de heresia, lançando mão de dois princípios da Reforma, a saber: a "Graça Comum" e o a "Imago Dei". Ele diria que a "Graça Comum" é a base para pensarmos que "a bondade, o governo e a instrumentalidade de Deus"[2] também influenciam pessoas que estão" à parte do conhecimento e do compromisso com o todo da revelação bíblica"[3] e a "Imago Dei" nos garantiria que todo ser humano é "capaz de expressar o ético e o estético divino"[4]. Sei também que Ariovaldo Ramos me defenderia, baseado em Mateus 28:19, dizendo que existe uma distinção entre a conversão de inúmeros indivíduos de uma nação e a conversão de uma nação como complexo cultural, por tanto, diria ele: "reconhecemos que uma nação está se convertendo quando esta nação passa a usar sua maneira própria de contar as suas mazelas para falar dos benefícios de servir a Cristo "[5]. 

Os dois argumentos são excelentes e são base para minha argumentação teológica, contudo, me parece que o maior motivo pelo qual o Brasil não experimenta esta abertura teológica-cultura não diz respeito apenas a ideia de que alguém que não tenha conhecimento bíblico não possa fazer algo interessante (Graça comum e Imago Dei) ou na ideia de demonização da nossa própria cultura local (Conversão da nação) e sim no fato de que a maioria cristã fundamentalista tem a ideia de que eles mesmo representam a matriz pronta e acabada da maneira correta de viver e servir a Cristo e que andar por outros caminhos significa literalmente desviar do "Caminho". 

O Circo Místico 
(Chico Buarque - Edu Lobo) 

Não 
Não sei se é um truque banal 
Se um invisível cordão 
Sustenta a vida real 

Cordas de uma orquestra 
Sombras de um artista 
Palcos de um planeta 
E as dançarinas no grande final 

Chove tanta flor 
Que, sem refletir 
Um ardoroso espectador 
Vira colibri 

Qual 
Não sei se é nova ilusão 
Se após o salto mortal 
Existe outra encarnação 

Membros de um elenco 
Malas de um destino 
Partes de uma orquestra 
Duas meninas no imenso vagão 

Negro refletor 
Flores de organdi 
E o grito do homem voador 
Ao cair em si 

Não sei se é vida real 
Um invisível cordão 
Após o salto mortal 
1983 © - Marola Edições Musicais Ltda

A música de Chico Buarque e Edu Lobo retrata na linguagem da Música Popular Brasileira aquilo que é inerente a todo ser humano no que diz respeito ao mistério da vida, da morte e do destino do homem. Temas profundamente relacionados à teologia e a humanidade em si! Mas os protestantes fundamentalistas teimam em restringir ao seu espaço social religioso. 

Quando olho para o questionamento de Chico Buarque, uma passagem bíblica me vem mente e quero compartilhá-la. A famosa passagem da mulher samaritana que questiona a Cristo a respeito do lugar correto para adoração. Tradicionalmente a passagem é conhecida como aquela que começa em João no capítulo quatro, versículo primeiro e vai até o versículo trinta. Mas para mim a perícope começa quando Jesus fica sabendo que os fariseus tomaram conhecimento de onde Ele estava e, por tanto, Ele decide sair da Judéia e ir para Galiléia[6]. Para mim essa história começa quando Jesus foge dos religiosos que se pretendem donos da verdade e vai para outro lugar, outros caminhos. 

O caminho de Jesus sempre teve abertura para encontros com outras culturas, outras opiniões e outras maneiras de ver. Não é sem motivo que ele tem um encontro com esta mulher da cidade de Samaria, mas o que representa Samaria? Se analisarmos a história monárquica de Israel, especialmente a divisão entre o Reino do Norte, Israel, com a capital em Samaria e o Reino do Sul, Judá, com capital em Jerusalém entenderemos que o clima é de guerra entre estes povos, antes homônimos e agora antagônicos. Esta história dá conta que tudo estava pronto para que uma guerra fosse deflagrada e Deus escolhe um profeta, Semaías, para que a tal guerra não ocorresse, no entanto, desde então "os judeus não se dão com os samaritanos" [7]. 

Imagine agora que Jesus passou mais de trinta anos ouvindo seus amigos e homens mais velhos dizer que os samaritanos não prestavam, imagine que quando Ele visitava o templo e conversava com os doutores da lei e eles diziam que os samaritanos não sabem onde adorar, pois segundo eles somente em Jerusalém se poderia adorar, o que é desmentido mais tarde. 

Para responder aos questionamentos daquele ser humano Jesus não fez caso da condição dela de mulher e de samaritana, nem tão pouco da dEle de homem e judeu, a necessidade do outro no que tange a conhecimento da maneira correta de agradar a Deus moveu Jesus de tão grande compaixão que Ele transpôs todas as barreiras sociais que se interpunham entre eles. 
Recapitulando: Aquele ser humano era uma mulher, ela era samaritana e mais adiante vemos que ela não tinha uma vida afetiva muito estável[8] e nada disso, segundo Jesus, seria impedimento para que ela ouvisse e fosse ouvida a respeito da maneira mais correta de adorar a Deus, nada disso seria impedimento para que houvesse um diálogo entre as matrizes de culturas diferentes a respeito da necessidade comum, de falar de Deus. 

Por tanto eu defendo que nós, cristãos protestantes brasileiros adotemos uma postura mais aberta e estejamos prontos a ouvir tudo aquilo que nosso povo tem a dizer e a questionar, não com o interesse de detectarmos seus erros mais patentes e acusá-los, antes no desejo de nos aproximarmos cheios de compaixão e respeito, prontos a saciá-los de uma água que não se esgota. Precisamos fazer com que este povo não tenha mais sede e não tente mais buscar saciar sua sede nos poços de Jacó. Precisamos fazer com que essas pessoas tenham dentro em si uma fonte a jorrar.


Para que isso se torne uma realidade precisamos dar mais ouvidos a cultura popular brasileira, precisamos ouvir mais MPB


Forte Abraço!

Marcos Nunes 

[1] Cathryn Smth, Princípios Batistas, Ponto 4.4 Igreja.Seu governo 
[2] Ed René Kivitz, Outra Espiritualidade, Pág 227 
[3] Ed René Kivitz, Outra Espiritualidade, Pág 227 
[4] Ed René Kivitz, Outra Espiritualidade, Pág 228 
[5] DVD Nossa Música Brasileira – vol 2, Sepal – Palestra de Ariovaldo Ramos 
[6] João 4:1-3 
[7] II Crônicas 11:1-4, João 4:9 
[8] João 4:16-18