Ação Social e o Pr. Robin Hood

sábado, 1 de maio de 2010 00:09 Postado por Marcos Nunes
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Este artigo é a reprodução de um email escrito em Julho de 2009 para os preletores do Fórum de Missão Integral na Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro.

Já faz algum tempo que venho pensando a respeito da chamada Missão Integral da Igreja. Recentemente participei do Fórum de Missão Integral promovido pela 1° Igreja Batista do Rio de Janeiro que tinha como palestrantes os pastores Neil Barreto (Igreja Batista Betânia), Clemir Fernandes (Instituto de Estudos da Religião) e Ariovaldo Ramos (IBAB \ Comunidade Cristã Reformada). Foi muito interessante, mas uma pergunta ficou em minha mente após fórum e até não consegui uma resposta. Um dia estava conversando sobre o assunto um grande amigo, interlocutor e militante pela causa social - Felippe Patrício - e fui estimulado escrever este artigo que pretendo enviar para estes três ilustres pensadores cristãos.


LAUSANNE E MOVIMENTO DE DIRETRIZ EVANGÉLICA:

Fiquei sabendo do Fórum de Missão Integral durante um evento na capela do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil - Tijuca - Rio de Janeiro. Era um evento comemorativo em relação ao aniversário do Movimento de Diretriz Evangélica.


Aprendi neste dia que estes conceitos mais bem formulados de justiça social existem mesmo antes de Lausanne I (1974) - Na verdade eu me converti em 2000 e não sei se ter demorado tanto pra saber mais sobre isso é culpa das igrejas e pastores ou minha?!?!

A partir disso já temos algumas perguntas:

Desde quando a igreja evangélica no Brasil leva a questão social a sério?



Ela leva a sério?

O prólogo do Pacto de Lausanne fala do reconhecimento de uma falha na evangelização mundial e o que podemos dizer sobre este assunto 25 anos depois?

Acho que não evoluímos muito nestes 25 anos.

O FÓRUM DE MISSÃO INTEGRAL:

O Fórum foi muito interessante e característico. Não havia muitas pessoas... excelentes preletores e bons diálogos. Inversamente diferente de certos eventos evangélicos regados a muita egolatria midiática e/ou pirotecnia-emocional.

O Fórum falou sobre algumas possibilidades de conceituação dos diversos termos envolvidos com a matéria como Assistência Social, Ação Social, Justiça Social e etc. A violência, o papel do estado, o papel da igreja, as bases teológicas e as bases bíblicas também foram abordadas. Mas o Pr. Clemir Fernandes fez uma colocação interessante em sua fala: "Mas é preciso investimento. O Pr. Neil está aqui e sua igreja precisou fazer um grande investimento" e logo passou a outras considerações. Mas como o Pr. Neil fala "Não é um sermão ou um livro que marca sua vida, as vezes é apenas uma frase". Esta frase do Pr. Clemir Fernandes me marcou.

MINHA REALIDADE:

Tenho 27 anos, me converti em 2000, aos 17 anos, numa igreja batista do sub-bairro pobre do Jardim Maravilha - Guaratiba - Zona Oeste do Rio de Janeiro. Moro atualmente em Magalhães Bastos, bem ao lado da I.B. Betânia e conheço razoavelmente bem a realidade da igreja pastoreada pelo Pr. Neil. Mas continuo congregando no mesmo local, ou seja, enfrento 1:20min - 2 ônibus - quase uma dezena de comunidades violentas e pobres.

Formei-me em teologia recentemente e estou fazendo o processo de Integralização dos créditos do diploma para que eu passa fazer uma pós-graduação reconhecida pelo MEC. Penso em Ciência da Religião.

Sou noivo de uma jovem que está na África em um projeto missionário.

Tenho formação em informática e trabalho no centro do Rio de Janeiro.
Freqüento eventualmente IB Betânia e estimulo a muitos amigos a ouvirem as mensagens Pr. Neil na internet (muitos já ouvem mais do que eu). Ouço muitas mensagens do Pr. Ariovado e do Pr. Ed René no site da IBAB e já tive o prazer de estar com o Pr. Clemir Fernandes e trocar alguns emails.

Pelas minhas referências citadas acima, pelas leituras e os professores de seminário, acabei tornando-me uma pessoa naturalmente inconformada com as igrejas evangélicas, ou melhor, com algumas igrejas evangélicas locais. Que fique claro, não sou revoltado com as igrejas, sou inconformado! Tanto que ainda não as abandonei e nem pretendo (com exceção de algumas igrejas neo-pentecostais de mídia). Tanto que estou inscrito no Lutando Pela Igreja que deve acontecer aqui no Rio de Janeiro.

REALIDADE DO LOCAL DA MINHA COMUNIDADE CRISTÃ:

1º Igreja Batista Jardim Maravilha. Fica num sub-bairro do subúrbio da Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Um enorme conjunto habitacional, localizado numa região de brejos e alagadiços próximos a Restinga da Marabaia e a Serra da Grota Funda. São milhares de habitantes, pouca presença do Estado nas estruturas básicas de saneamento, asfalto e saúde.

Alta taxa de gravidez na adolescência, alta taxa de natalidade nas famílias, alto número de divórcios, baixa taxa de escolaridade e de profissionalização, baixa renda per capita, baixa taxa de empregos formais.

Sem a presença "formal" do tráfico, com alguma presença de milícia, suficiente para gerar disputa de controle e mortes.

Na igreja falta de recursos financeiros e recursos humanos preparados e voluntários.

Proposta do Pr. Clemir Fernandes: 
"Mas é preciso investimento..."

A GRANDE PERGUNTA:

"Como?"

Eu falava com meu amigo Felippe que está iniciando um projeto social em Guaratiba. Ele pertence a uma igreja menor numericamente, mas mais abastada financeiramente do que a minha.

Eu disse: "Felippe, olha minha crise: A sua igreja tem menos gente e mais dinheiro do que a minha, além de menor número de pessoas necessitadas na igreja e na comunidade. A minha igreja tem mais gente e tem menos dinheiro do que a sua, além de maior número de pessoas necessitadas dentro e fora da igreja"

E agora José?"

AS POSSIBILIDADES:

Estive pensando em projetos de ação social auto-sustentáveis, parcerias como empresas, em ações de cobrança junto ao estado e etc.

Mas tudo isso ainda passa por ações de capitação de recursos externos ao seio da igreja.

As pessoas de igrejas pobres esperam mais as bênçãos e os milagres de Deus do que a ajuda do próximo, por isso igrejas de discurso mais carismático são tão bem recebidas no Brasil.

Tenho um amigo que diz: as pessoas não estão preocupadas com o Reino de Deus e sua Justiça, elas querem "Pão e circo". Na verdade elas querem se realizar minimamente.

Algumas pessoas de igrejas pobres têm até vontade de ajudar, mas eles mal têm pra si.

O QUESTIONAMENTO:

O questionamento que está perturbando minha mente é, de certa forma, um questionamento ético.

Como futuro pastor, será que eu tenho que dar "pão e circo" ao povo que tem mais recursos, tirar deles "ofertas de fé" e depois dá-las aos pobres em forma de ações de justiça social?
Será que eu terei que ser um Pr. Robin Hood pra tentar promover alguma justiça social?

Vocês (Ariovaldo, Neil e Clemir) conhecem bem o assunto e conhecem filosofia.

Como isso tudo funciona nestes casos? Isso é ético, se feito assim?

Não consigo me ver fazendo isso! Mas sei que pedir dinheiro a igreja de pessoas pobres para dar para outras pessoas pobres não funciona muito. E sei que pedir dinheiro prometendo "Pão e circo" funciona!

Minha igreja não tem médicos voluntários, não tem advogados voluntários, não tem psicólogos voluntários.

Minha igreja, quando muito, tem pedreiros voluntários, eletricistas voluntários, mecânicos voluntários.

Todos sem formação suficiente pra ministrar algum curso profissional!

Forte Abraço!

Marcos Nunes


Comment (1)

Vai tomar uma coça da galera da IBB se tiver mandando letrinha rsrsr

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